As terras da Pajuçara pertenciam a Luis das Seixas Correia (Português vindo do Maranhão) que foram compradas em 1883 por Rodolfo Teófilo, que as denominava de ‘Alto da Bonança’ onde ele escrevia seus livros, recebia os amigos da Padaria Espiritual, como Antonio Sales, elaborava a cajuína, vacinava a população e descansava tranqüilo.
Em ‘O Caixeiro’ ele diz:
Ao comprar estas terras contava então 30 anos, aqui se estabelecendo e muito contribuindo para a história deste lugar, comprou-as em 1883, um ano antes da abolição da escravatura no Ceará. No ano seguinte, em 1884, Rodolfo participa da campanha abolicionista em Pacatuba, trabalhou e escreveu para livrar o povo negro do cativeiro, como atesta o historiador Raimundo Girão:
“Rodolfo Teófilo o ‘romancista das secas’, que mais tarde (1913) enfeixaria os seus versos de tanta espontaneidade e simplicidade bucólica de ‘Lira Rústica’ e ‘Telésias’, não perdia lance na dedilhação das suas delgadas primas, de preferência ofertando odes heróicas aos municípios que se iam livrando do cativeiro. Fê-los a Pacatuba, Icó, Baturité, Messejana, Maranguape”[2].
E cita os versos:
Nesta terra de heróis, e terra só de bravos,
É um crime infamante um homem ter escravos,
Vender seu irmão!
Enquanto o Sul os compra a peso de dinheiro,
Aqui dá liberdade até ao jornaleiro,
Sem impor condição!
A pouco lá nos serros azuis do Acarape
Ecoou mais veloz que d’índios o tacape
Da liberdade o grito!
Vingava a mocidade o crime do passado,
Erguia o cidadão que tinha prosternado
Dava pátria ao proscrito!
E agora aos dos hinos da vitória
Os sons das notas dos cânticos da glória
A Pacatuba entoa
Aratanha de pé, gigante de granito
Quebrou os ferros do mísero proscrito
E cinge uma coroa
E salve os denodados, salve!Ó mocidade!
A chaga que rói a pobre humanidade
Tu a viste sarar
É nobre trazer luz ao cego que tateia
Mais nobre é quebrar os elos da cadeia
Como a população de Maracanaú se espalhava pelas cercanias era necessária a fundação de igrejas, onde as pessoas pudessem prestar culto a Deus, foi assim que em 12 de junho de 1888 inaugurou-se no alto da colina de S. Antonio a capela de S. Antonio pela família Pitaguary, lugar onde todos os anos celebram-se as festas em homenagem a Santo Antonio do Pitaguary no período junino,segundo uma lenda foi encontrada neste local uma estátua do santo em um buraco na pedra,donde jorrava uma fonte,daí o nome de S. Antonio do Buraco.[4]
Rodolfo Teófilo publicou um pequeno jornal em Pajuçara, “O Domingo”, onde se encontram alguns fatos interessantes sobre este lugar, como por exemplo, a edição de 24 de maio de 1895:
“Terminamos chamando a atenção dos leitores para o magnífico artigo de Lasdilau Conceição sobre a primeira comunhão das meninas do Alto da Bonança, capitaneada pela insigne soldada da religião, a Exma Sra D. Raimundinha Cabral Teófilo e o incansável soldado de Cristo, Pe Otoni.”[5]
No período de 1877 ao início do século XX, o Ceará além de sofrer com as secas, que fazem as pessoas abandonarem o interior em busca de salvação na capital, também sofre com a epidemia das pestes Cólera-Morbo e Varíola. Rodolfo lutou incansavelmente denunciando a indiferença do governo e vacinando pessoas em todos os recantos do Ceará, inclusive na Pajuçara.
Em Pajuçara, sua atuação foi eficaz evitando que várias pessoas morressem destas pestes que grassavam em todos os municípios do Ceará. Em 1901 nos meses de maio e junho ele vacinou 227 pessoas aqui em Pajuçara, segundo ele:
“Na fazenda continuei o serviço da vacinação, não só porque tinha de prover da vacina os meus substitutos na capital, como porque havia naquelas cercanias grande número de indivíduos não vacinados. Visitei todos os domicílios daquelas paragens circunvizinhas, e quando em meados de julho regressei à capital, trazia, para aumentar o número de pessoas vacinadas, o nome de 227 indivíduos”.[6]
Em 1902 nos meses de maio e junho foram vacinadas 46 pessoas, no ano de 1903 começa nova vacinação em Pajuçara, em janeiro 43 pessoas, maio e junho 72 pessoas, em 1904 não ocorreu nenhum caso de varíola em Fortaleza. Nesse mesmo ano vacinou 37 pessoas em junho, perfazendo de 1901 a 1904 o total de 425 pessoas vacinadas em Pajuçara; como podemos constatar não foi pequena a contribuição de Rodolfo.
De 1896 a 1900 e depois de 1904 a 1912 foi governador do Ceará o comendador Antonio Pinto Nogueira Acioli, o chamado Oligarca, que permaneceu durante 16 anos no poder, até que em 1912 a população de Fortaleza numa verdadeira guerra civil o depôs do poder, este que foi um dos piores governantes que o Ceará já teve e que não reconheceu o importante trabalho do varão benemérito da pátria como veremos adiante.
Em 1906, Maracanaú é elevado à categoria de Distrito na sessão da câmara de Maranguape, pertencendo com Pajuçara ao mesmo município. Coube a Rodolfo a criação da primeira escola infantil de Pajuçara, que funcionava graças à boa vontade dele e dos moradores daqui, porém esta escola seria fechada por ordem de Nogueria Acioli como nos relata Antonio Sales em seu livro “O Babaquara” de 1912:
“Quatro léguas distante da capital há um lugar chamado Pajuçara com uma população repartida em sítios, fazendas e habitações mais ou menos próximas. Por empenhos generosos de alguns moradores, criou-se ali uma escola, sendo, aliás, preciso que um desse a mesa, os bancos, etc. A escola estava funcionando com uma freqüência de 40 alunos. Mas aconteceu impor-se o Oligarca (Acioli) com o benemérito cearense Rodolfo Teófilo, que tem ali uma vivenda de recreio e goza da mais alta influência sobre aquela população. Tanto bastou para que a escola fosse suprimida, ficando sem instrução essas 40 crianças, filhos de cidadãos que pagam seus impostos e que não recebem em troca o mínimo benefício do governo.”[7]
Também em seu livro “Libertação do Ceará – Queda da oligarquia Acioli” (1912), Rodolfo nos relata esse fechamento da escola:
“A escola primaria de Pajussara, por exemplo, foi suprimida tendo 63 creanças matriculadas e uma freqüência de 45 alumnos. Embalde reclamaram os pais de família das localidades, onde a instrução havia desaparecido; mas o governo sustentou o seu ato.”[8]
Logo após a queda da oligarquia Acioli acontece a sedição de Juazeiro, Pe Cícero e Floro Bartolomeu e seus jagunços se opõem ao novo governo do coronel Franco Rabelo e assim passam a saquear e invadir diversas cidades do interior chegando até a capital. A casa de Rodolfo no Alto da Bonança (Pajuçara) é então saqueada pelos jagunços por incitação dos Caetanos, que já tinha rixa com Rodolfo pelas extremas de terra, como narra Rodolfo em seu livro “A Sedição de Juazeiro”:
“Possuo uma vivenda de recreio em Pajuçara, a 20 km de Fortaleza e a 5 km de Maracanaú, estação da estrada de ferro de Baturité. Em Pajuçara há uma família de pardos, os Caetanos, meus desafetos por extremas de terra. Com o fim de captar as simpatias dos jagunços, mandaram a Maracanaú convidá-los para um almoço e também para lhes oferecer um boi. Aceitaram o convite e vieram chefiados pelo célebre Manuel Domingos, solto de uma cadeia do interior. Os pardos os receberam carinhosamente. Comeram e beberam a fartar. O fim daquela generosa hospitalidade era, no entanto, pôr a disposição dos jagunços os meus gados (...) Eu ignorava o que se estava passando em Pajuçara, pois à Fortaleza ninguém se atrevia a vir. O estado de sítio havia aterrado o povo. Pensaram que o inspetor da região podia prender e matar. E pensavam muito bem. Os direitos a as liberdades dos cidadãos já não estavam mortos?”[9]
Um dos chefes dos jagunços foi José de Borba Vasconcelos, paraibano, que fez os estudos de Direito na faculdade de Direito do Ceará e que após unir-se ao bando vivia de cidade em cidade fazendo saques e rapinagens, segundo narra Rodolfo. Além dos jagunços, do descaso do governo, há o grande problema do Nordeste, a seca, tão bem retratada em seus livros “A Fome”, “História das secas no Ceará – segundo metade do século XIX” e um dos principais “A Seca de 1915” em suas conseqüências desastrosas para todos, onde ele cita um fato curioso sobre Pajuçara:
“O retirante curtido da fome come tudo. Inúmeros fatos provocam esta verdade. Agora mesmo, no período agudo da seca de 1915, fazendeiros de Quixeramobim retiraram gados para Pajuçara que dista de Fortaleza cerca de 15 km e onde tenho uma pequenina fazenda de criar. Nesse tempo as infecções intestinais e a paratífica assolavam Fortaleza e os médicos clamavam contra a má qualidade da carne.
Ao médico da Intendência, Dr. José Ribeiro da Frota, clínico de grande nomeada, funcionário modelo, que cumpria religiosamente o seu dever, pediam toda a atenção para o gado que se abatia para o consumo público. Enquanto na capital se levantava semelhante celeuma quanto à péssima qualidade da carne entregue ao consumo, os pobres da Pajuçara comiam toda rês que morria de inanição ou de moléstia. Posso afirmar que morreram naquele tempo mais de cem rezes e que foram todas aproveitadas até os intestinos. Para os urubus não chegou um pedaço de tripa.Penso que o povo não chegou a comer todo gado morto de carbúnculo, porém do mal do chifre, de que vieram atacados alguns bovinos de Quixeramobim, todos os que morreram. Com semelhante alimentação, posso garantir que não houve um caso de moléstia em Pajuçara, cuja população nunca teve melhor saúde. Os retirantes que regressaram vieram mais desgraçados do que foram.”[10]
O Poeta Antonio Sales descreve-nos com maestria a fazenda de seu amigo Rodolfo em Pajuçara, que ele diversas vezes freqüentou, nos seguintes versos:
“Da Tebaida do Rodolfo
que neste mar de verdura
é como um pequeno golfo
calmo e de amarra segura
venho escrever-te essas linhas
para,apesar da preguiça,
de minha pena remissa,
mandar-te notícias minhas
O mato é de um verde tal
Que deve ser escolhido
Para dele ser tingido
O pavilhão nacional
Qual outro Rondon,me abrasa
A sede das descobertas,
E exploro selvas desertas
Em outra parte ele diz ainda sobre a casa de Rodolfo:
“... a casa numa pequena elevação, tendo aos pés um açude e dominando uma baixada verdejante de capoeirão grosso, onde há ainda uns restos de mata, de que se destacam as umbelas das maniçobas e as ventarolas das carnaúbas.”[12]
Nessa época viviam em Pajuçara as primeiras famílias: os Caetanos, os Ferreiras e Henriques. Famílias pioneiras nesta região, cujos descendentes ainda vivem aqui. Em 02 de julho de 1932 faleceu o varão benemérito da pátria Rodolfo Teófilo, um dos maiores benfeitores do Ceará e o mais ilustre habitante de Pajuçara, que pode ser considerado o seu fundador.
No ano de 1937 é construída a capela de N.S. da Conceição de Pajuçara, que até então não tinham onde celebrar a não ser na capela da casa de Rodolfo, aqui a população poderia assistir suas missas, batizar seus filhos, fariam suas comunhões, casamentos, etc,dando assim maior sentido à vida em comunidade. A festa principal seria a da padroeira N.S.da Conceição no dia 08 de dezembro, seguida da festa de São Sebastião no dia 20 de Janeiro. A ‘igrejinha da pista’, como era chamada, era o lugar de confraternização e de socialização do povo de Pajuçara, bem como das quermesses[13] e festas religiosas.
Em 1938 parte do então distrito de Rodolfo Teófilo, que pertencia a Fortaleza, é incorporado a Maracanaú, o que hoje é o distrito de Pajuçara.
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